Mudança do clima exige medidas de adaptação no campo

Relatórios divulgados pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas avaliam estudos sobre aquecimento global e apontam medidas de adaptação e mitigação para o campo

Por Roberto Villar Belmonte

Para alcançar o desenvolvimento nacional, a segurança alimentar, a adaptação e a atenuação das mudanças climáticas, assim como as metas comerciais nas próximas décadas, o Brasil precisará elevar de forma significativa a produtividade por área dos sistemas de cultivo de produtos alimentícios e de pastagens, reduzindo ao mesmo tempo o desmatamento, reabilitando milhões de hectares de terra degradada e adaptando-se às mudanças climáticas.

PlanoA recomendação faz parte do relatório “Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação” divulgado no final de 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. O aquecimento global, segundo este estudo, poderá colocar em risco a produção de alimentos no Brasil, “caso nenhuma medida mitigadora e de adaptação seja realizada”. O País poderia perder cerca de 11 milhões de hectares de terras adequadas à agricultura, por causa das alterações climáticas até 2030.

No cenário internacional, a primeira parte do 5º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), divulgada no final de setembro do ano passado, mostrou que são sólidas as evidências de que a ação do homem é a principal causa das alterações climáticas. Os principais estudos científicos apontam que a temperatura na superfície da terra e do mar aumentou em média 0,85º C desde o início do século passado.

Os três relatórios divulgados no segundo semestre de 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) estão disponíveis em www.pbmc.coppe.ufrj.br
Os três relatórios divulgados no segundo semestre de 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) estão disponíveis em www.pbmc.coppe.ufrj.br

Os cenários futuros apontam para uma mudança de temperatura média acima de 2ºC, o que provocaria grandes desequilíbrios em ecossistemas fundamentais para a sobrevivência da humanidade. À medida que o planeta aquece, os padrões de chuva e temperatura mudam e eventos climáticos extremos como secas, chuvas intensas, que podem gerar inundações, ondas de frio e de calor se tornam mais frequentes, com impactos importantes em todas as regiões do planeta.

Migração de culturas

No setor agropecuário brasileiro, espera-se que o aumento da temperatura promova um crescimento da evapotranspiração e, consequentemente, um aumento na deficiência hídrica, com reflexo direto no risco climático para a agricultura. Por outro lado, com o aumento da temperatura, ocorrerá uma redução no risco de geadas no Sul, no Sudeste e no Sudoeste do País, acarretando um efeito benéfico às áreas atualmente restritas ao cultivo de plantas tropicais.

A dinâmica climática deverá causar uma migração das culturas adaptadas ao clima tropical para as áreas mais ao sul do País ou para zonas de altitudes maiores, para compensar a diferença climática. Ao mesmo tempo, haveria uma diminuição nas áreas de cultivo de plantas de clima temperado do País, segundo o relatório “Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação”, divulgado no final do ano passado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Medidas mitigadoras

Como a agropecuária contribui com 35% das emissões totais de gases de efeito estufa no Brasil, também exibe muitas possibilidades para mitigação dessas emissões, como recuperação de pastagens, aumento do plantio direto, expansão dos plantios de florestas comerciais, além da eliminação da queima da cana-de-açúcar na colheita, do uso de aditivos na dieta de bovinos, do tratamento de dejetos de suínos e redução da fertilização nitrogenada por inoculantes microbianos.

A redução e o controle dos desmatamentos, os mecanismos de compensação ambiental, como os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD+), o aumento de produtividade agrícola, o ordenamento territorial e o controle de queimadas também aparecem como medidas mitigatórias visando redução das emissões e aumento dos estoques de carbono no relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
Estabelecido em 2009 pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente – nos moldes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) – para reunir, sintetizar e avaliar informações científicas sobre os aspectos relevantes das mudanças climáticas no Brasil, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) divulgou três relatórios no segundo semestre de 2013: Base científica das mudanças climáticas; Impactos, vulnerabilidades e adaptação; e Mitigação das mudanças climáticas. Todos disponíveis em www.pbmc.coppe.ufrj.br .

Plano Clima
O Plano Nacional sobre Mudança do Clima (Plano Clima) lançado em 2008 está sendo atualizado pelo governo brasileiro. Consulta pública sobre o tema foi concluída em dezembro do ano passado. A versão final do plano revisado deve ser apresentada no primeiro trimestre de 2014. O seu objetivo é incentivar o desenvolvimento e o aprimoramento das ações de mitigação no Brasil, colaborando com o esforço mundial de redução das emissões de gases de efeito estufa, bem como a criação das condições internas para lidar com os impactos da mudança global do clima (adaptação).

Saiba mais:
Embrapa disponibiliza site informativo sobre Aquecimento Global: www.aquecimento.cnpm.embrapa.br/index.htm .

Texto publicado na revista Campo Aberto 110, de fevereiro de 2014.

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