Uma história do jornalismo ambiental no rádio

Por Roberto Villar Belmonte

Aproveitei o recesso de julho para tirar da gaveta um projeto antigo: a digitalização do meu acervo de programas e reportagens produzidos nos anos 1990 na Rádio Gaúcha de Porto Alegre (RS), em especial o Gaúcha Ecologia, que produzi e apresentei entre 1995 e 1999.

Depois de colocar no ar, eu gravava em fita cassete todas as edições dos meus programas. As fitas resistiram por três décadas a várias mudanças de endereço e até a inundação histórica do ano passado (estavam no alto de uma prateleira, por isso não foram atingidas pela água que entrou no meu apartamento térreo).

Não sei quanto tempo vou demorar para digitalizar tudo, mas já comecei. Criei essa playlist no Soundcloud, com arquivos em ordem cronológica. A ideia é contribuir com a pesquisa da história do jornalismo ambiental brasileiro no rádio, e com a preservação da memória do ambientalismo.

Já estão lá o primeiro programa (08/01/95), parte da cobertura especial que fiz de projetos ecológicos na Alemanha alguns meses depois da estreia, além de um programa especial comemorando o primeiro ano do Gaúcha Ecologia, explicando como ele foi pioneiro no uso da internet para apuração e mobilização da audiência.

Lá estão também parte da cobertura que fiz na II Conferência da ONU sobre Assentamentos Humanos, que aconteceu em Istambul, na Turquia, de 3 a 14 de junho de 1996, uma reportagem especial que fiz no bioma Pantanal e a entrevista exclusiva com Carlos Dayrell, o ativista que subiu em uma árvore em Porto Alegre em 1975.

Depois dessa entrevista exclusiva que fiz com Dayrell, ele voltou à capital gaúcha com a família convidado pela Agapan e recebeu o título de Cidadão Honorário. Ouvindo novamente os programas dá para perceber como a luta ambiental ainda segue com as mesmas batalhas. O Gaúcha Ecologia estaria completando 30 anos em 2025.

Quem cobre temas ambientais no Brasil?

Por Roberto Villar Belmonte

Após a descoberta de mais um crime ambiental da Vale, dessa vez em Brumadinho (MG), a pauta ambiental permanece há dias na primeira página dos principais jornais brasileiros e merece longas reportagens nas emissoras de televisão do país.

Fenômeno semelhante ocorreu durante grandes eventos ambientais, como a Rio 92 e a Rio + 20. Conferências do clima da ONU e relatórios do IPCC também conseguem chamar a atenção das principais redações brasileiras.

Desastres e grandes eventos sempre são pautas factuais de destaque, com alto valor-notícia. Quando terminam tais acontecimentos, quase todos esquecem novamente da pauta ambiental.

O Ricardo Kotscho brincou com isso nessa semana em seu blog dizendo que os repórteres seriam como os bombeiros, só aparecem quando toca a sirene. A comparação é boa. Lembrou ainda das grandes coberturas nacionais realizadas pelo Estadão.

Tem razão o Kotscho, o Estadão e a Agência Estado já foram referência na cobertura de temas ambientais no Brasil. Atualmente, quem luta para manter os temas ambientais na pauta do jornal O Estado de S.Paulo é a repórter Giovana Girardi.

Esse comportamento não é novidade, faz parte do jornalismo. Por isso defendi no livro Formação & Informação Ambiental (Summus, 2004) menos catástrofes e mais ecojornalismo. A cobertura ambiental é uma questão de sobrevivência.

Voltei a esse tema recentemente em artigo sobre silenciamentos da imprensa publicado na Revista Famecos em parceria com as colegas do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) Eloisa Beling Loose e Ângela Camana.

Ainda segundo Kotscho, “precisamos ter mais Trigueiros”. Concordo. Mas também falta, por diversas razões, coragem para a imprensa brasileira enfrentar sem trégua o lobby dos grandes devastadores públicos e privados.

Para contribuir com essa conversa sobre a necessidade de manter os temas ambientais na pauta diária do jornalismo, compartilho levantamento que estou fazendo para a minha pesquisa de doutorado sobre o jornalismo ambiental brasileiro.

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Jornalismo ambiental premiado

“Somos falsos defensores da natureza. Porque bradamos, defendemos o meio ambiente quando isso não nos custa nada. Quando isso impõe um custo para nós, achamos que a obrigação é do outro. É do poder público”, disse o promotor Daniel Martini, da Promotoria Regional de Meio Ambiente das Bacias dos rios dos Sinos e Gravataí, ao jornalista Clovis Victória na primeira reportagem da série Esperança para o Sinos publicada no jornal Extra Classe, nas edições de julho, agosto e setembro de 2011, que conquistou o primeiro lugar da categoria Jornalismo Impresso – Reportagem Geral do 53º Prêmio ARI-Banrisul de Jornalismo, da Associação Riograndense de Imprensa, o principal prêmio do jornalismo gaúcho, e primeiro lugar na categoria Reportagem Impressa do 13º Prêmio de Jornalismo do Ministério Público do RS. Continuar lendo Jornalismo ambiental premiado